na conduta de cada dia pelo hábito da pontualidade aos encontros marcados, na ética dos negócios pela venda escrupulosa de produtos segundo a qualidade e o estado de conservação indicados nos anúncios de jornal. Influências inglesas que em muitos casos assumiam ares de invasão e de conquista, dada a soma de privilégios que os tratados imperialisticamente impostos asseguravam, desde as tarifas escandalosas até a justiça de exceção, o odioso Juiz Conservador da Nação Inglesa, atentatório da soberania do jovem Império brasileiro. Esses aspectos da expansão inglesa entre nós mais do que quaisquer outros suscitaram a impopularidade dos beefs, "baetas", "gringos", "novas-seitas", "bodes" das alcunhas populares.
É bem conhecido o ato do governo de D. João contra as rótulas e gelosias de urupema. Sua substituição por grades de ferro e vidraças revestiu-se de um caráter quase revolucionário, que Gilberto Freyre assinala, sugerindo explicação nova e plausível — pressão de ingleses interessados na venda de ferro e vidro. De um dia para outro começou a chegar da Inglaterra vidro em grandes quantidades, de todas as espécies, para todas as serventias. E também ferro. Vidro e ferro passaram a caraterizar as casas brasileiras. De 1808 a 1830 poucos os brigues vindos da Inglaterra para o Brasil sem essas quatro ou cinco mercadorias básicas do comércio britânico com a América portuguesa: vidro, ferro, fazenda, louça, bacalhau. Os jornais ficaram pejados de anúncios de vidro. Ter vidro ou vidraças passou a ser vantagem incalculável. Casas, carruagens, até os homens com os diversos aparelhos de ótica, todos beneficiando do vidro. A mística do vidro, avança Gilberto Freyre. Por ocasião da abertura dos portos do Brasil ao comércio das nações amigas, na "nação amiga" por excelência — a Inglaterra — as indústrias do ferro e do vidro haviam logrado posição das mais consideráveis. Conquistar, pois, para os seus produtos de ferro e de vidro, um mercado por assim dizer virgem como o nosso, atiçaria por certo a cobiça dos negociantes ingleses; e é por isso que o autor deste livro levanta, em face das consequências do ato proibitivo das gelosias, a hipótese de manobras astuciosas de britânicos junto a governantes poderosos ou a seus parentes. D. Rodrigo de Sousa Coutinho, anglófilo notório, poderia estar nessa trama, ou, como diríamos hoje, nesse episódio de advocacia administrativa. O reinado americano de D. João VI mereceu a pecha de corrupto, e Oliveira Lima, conhecedor máximo