Ingleses no Brasil

Aspectos da influência britânica sobre a vida, a paisagem e a cultura do Brasil

desse período histórico, não faz mistérios a respeito. Talvez o conde de Linhares seja lembrado, de preferência a outros, por sua dedicação aos ingleses, que era um pouco o avesso do seu horror aos "abomináveis princípios franceses'', sua repugnância à grande Revolução. Terá mesmo ele influenciado o Intendente Geral da Polícia, Paulo Fernandes Viana, no edital de 11 de junho de 1809 contra as gelosias? É muito provável que tenha havido nessa medida sugestão ou pressão de interessados na venda de ferro e vidro. O certo é que a determinação, baixada a pretexto de motivos estéticos e de saúde pública, se cumpriu rapidamente, e o louvaminheiro padre Luís Gonçalves dos Santos regista que nunca se executara "ordem superior com tanto gosto e igual satisfação". Gosto e satisfação de que participaram em termos de pecúnia os comerciantes ingleses de ferro e vidro; ferro e vidro de que decorreram modificações profundas na paisagem brasileira e em que houve indisfarçáveis influências inglesas.

Seria encarar estreitamente os fatos supor que só por interesse comercial os britânicos trariam alterações a nossa vida. Gilberto Freyre mostra como eles, revelando sempre o seu feitio de "admiráveis revolucionários contemporizadores", souberam conservar o que havia de bom e do mesmo passo introduzir a novidade útil ou agradável. Foi por exemplo o que fizeram com as casas de residência suburbana, com os jardins, com o mobiliário.

Servindo-se magistralmente de uma técnica de pesquisa de que foi pioneiro em O Escravo nos Anúncios de Jornal do Tempo do Imperio, o autor deste livro extraiu com paciência de velhas gazetas um material de incomparável valor. Quase se pode afirmar que toda a sua documentação repousa em anúncios de jornais; nestes e em esquecidos ofícios de cônsules. Mas com esse apoio documental, na aparência insignificante ou humilde, Gilberto Freyre chega a resultados verdadeiramente surpreendentes pela novidade, pela variedade, pelo rigor, pela segurança. Aliás, os velhos jornais não só nos seus anúncios guardam os sinais da influência inglesa no Brasil e consignam os choques com outras influências, sobretudo a francesa. Sem a pujança da Inglaterra, cujo desenvolvimento econômico não podia acompanhar, a França foi sempre sua rival no Brasil, a disputar-lhe a clientela comercial e o domínio dos espíritos. A Aurora Fluminense, em 1828, refletiu lances desse conflito. Para Evaristo os comerciantes franceses

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