(36)- Se nesta circunstância e em outras expedições de que nos ocupamos nesta obra, nossos soldados se tornaram responsáveis por saques e excessos, a causa desse procedimento estará ligada ao modo por que essas tropas eram formadas. Esses soldados, quer os das nossas fileiras, quer os das espanholas, eram, na maioria, mercenários alemães, italianos, franceses e irlandeses, verdadeira vasa da sociedade, sem outro alvo que não fosse o da pilhagem. Em contraste, os marinheiros, quase todos filhos do país, e recrutados com mais seleção, conduziam-se em geral com moderação e disciplina.
(37) - Há certamente engano por parte de vários autores portugueses e de Beauchamp, ao afirmarem que eles não se tinham rendido senão sob a condição de sair com todas as honras de guerra, ao som dos tambores, mecha acesa, bandeira desfraldada. Encontramos numa das brochuras da Biblioteca Duncaniana a cópia do termo de capitulação redigido nas línguas holandesa e portuguesa o qual confirma integralmente nossa narrativa, aliás apoiada em De Laet. No seu 1.° volume, à página 519, Southey dá uma explicação bem hábil, mas a nosso ver pouco aceitável, dessa aparente contradição dos autores holandeses e portugueses: - os quarenta homens que se recusaram a prestar o juramento, não teriam sido informados por seus chefes dos termos dessa capitulação, antes de sua saída da fortaleza, e foi somente após algum tempo de prisão que eles se submeteram à exigência. Esse mal entendido teria, assim, ocasionado as opiniões contraditórias dos vários autores que se ocuparam do episódio.
Já feita a impressão de grande parte deste livro, veio ter-nos às mãos o Jornal do Comércio, do Rio, que publicou as Memórias de Duarte de Albuquerque, atingindo até o frustrado ataque dos holandeses do forte de São Jorge. São essas memórias de muito valor e perfeitamente autênticas, dada a situação do seu autor. Ele não faz a menor alusão à pretendida deserção da primitiva guarnição do forte de São Jorge, nem ao ato de devotamento e bravura de Vieira, nessa ocasião. Compunha-se a guarnição apenas de 37 homens que se portaram dignamente, desde o começo do cerco. É possível que os serviços prestados por Vieira, nessa emergência, não tenham tido existência real e fossem inventados visando-se realçar ainda mais os méritos desse grande homem. Pelo menos Southey, que aceita essa versão, cita, em apoio, a autoridade de dois historiadores portugueses dos mais conceituados.
(38) - Erradamente Southey - I, p. 523, Beauchamp e outros historiadores estrangeiros afirmam ser de 600 homens a escolta do general, afirmativa de todo inverossímil. De Laet, mais perto da verdade, estima essa escolta em 50 homens.