chefe da orquestra, que o tocava, fazia jus, só por ele, à passagem que fora concedida a sua banda. Tenho a pretensão de entender também um pouco de música, mas quando o trecho é um tanto difícil, executo-o sorrateiramente numa oitava mais baixo; esse recurso admite-se no amador tímido, porém aqui a bordo o negócio era outro. O clarineta a que aludo não recuava diante de qualquer dificuldade; afrontava-a com desembaraço, que nem sempre era coroado de êxito e, nesses instantes, tinha-se vontade de tapar os ouvidos. Nem por isso o destemido músico desanimava. Sua maneira honesta de corresponder ao gesto do comandante proporcionando-lhe transporte, fazia-me recordar antigo modelo acadêmico contratado por um artista para posar durante três dias. Como, de repente, alguns interesses houvessem exigido a presença do pintor fora de Paris, teve de paralisar o trabalho, embora disposto a pagar ao modelo no regresso da sua viagem. À hora indicada para as poses, o modelo, sem ter tido ciência da ausência do artista, bate-lhe à porta, torna a bater e, não tendo resposta, resolve-se a fazer jus de qualquer modo aos seus honorários; despe-se tranquilamente e ali mesmo no patamar, em frente à porta da habitação do artista, toma a posição que lhe fora marcada, repousa nos momentos indicados e, de quando em quando, interrompido pelas pessoas que descem ou sobem a escada, cumprimenta-as polidamente. Durante os três dias convencionados, esse modelo cumpriu à risca seu dever, merecendo o seu salário.
Tenho notado que, por uma esquisitice semelhante à que impele as mulheres de pequena estatura para os grandalhões dos tambores-mores, os músicos baixos também preferem os instrumentos grandes. Aquele pequeno clarineta quase se sumia entre os dedos fornidos do honesto e colossal alemão, ao passo que seu filho, contando apenas