10 anos, soprava com esforço um trombone maior do que ele.
No primeiro dia de audição, os trechos musicais foram apenas ouvidos, mas, na outra tarde, já dois amáveis passageiros valsaram juntos; dois outros os imitaram e, por fim, ousaram fazer convites às damas cujos pés acompanhavam os compassos; improvisou-se deste modo um baile digno da música, apesar dos balanços do navio. Um abismo imensurável estava debaixo de nossos pés, mas quem pensa nisso ao dançar?! Pouco a pouco todos nós íamos nos familiarizando. Intimidades despontaram em um dia como plantas de estufa. Não se realizavam, entretanto, as promessas de encontrar mar calmo e temperatura suportável, ao sairmos de Lisboa, pois o vento permanecia violento. A 14 avistamos Porto Santo e ainda no mesmo dia chegamos a Madeira, um dos lugares que mais desejava visitar. O tempo de demora foi curto: mal pude dar uma vista de olhos na cidade e nos seus habitantes. O bote, que eu e alguns companheiros alugáramos para ir a terra, fora atracar, por imperícia ou costume, numa praia coberta de seixos para lastro. Tornou-se impossível o desembarque, ali, porque as ondas se quebravam com ímpeto. Foi quando os tripulantes se lembraram de atrelar dois bois à embarcação, o que resolveu o caso em poucos minutos, sem que, todavia, a meio caminho, os passageiros deixassem de cair uns em cima dos outros, como cartas de baralho, causando hilaridade a um bando de tipos esfarrapados já afeitos certamente a essa espécie de espetáculo. Desembarcamos molhados e de mau humor e sem dúvida seríamos seguidos pelos espectadores se por acaso outro grupo de indivíduos, ávidos de divertimento, não nos aparecesse trazendo-nos cavalos providos de selas e arreios. Cada um de nós montou no seu, para iniciar subida tão penosa quanto as das ruas de Lisboa; esta vez, felizmente, quem padecia com as ladeiras eram os animais. Fomos ver uma igreja cujo nome me escapou; de lá teríamos um belo panorama.