Dois anos no Brasil

Atravessamos muros de jardins fartamente plantados, cujas flores quase roçavam o chão, e, ora aos solavancos, ora a galope, atingimos o alvo de nosso passeio. Percorri tantas igrejas na Itália e na Espanha, que todas elas se misturam nas minhas recordações a ponto de não poder me lembrar nitidamente desta ou daquela, a não ser São Pedro de Roma, as catedrais de Sevilha, de Burgos, de Toledo. Mesmo assim me encontraria embaraçado para atender a uma pergunta concernente a pormenores de uma delas. Mas, se não pude conservar recordação perfeita do templo visitado, na Madeira, do espetáculo dali descortinado jamais me esquecerei.

A Madeira é um jardim; todos os frutos da Europa e os dos trópicos dão-se ali maravilhosamente; possui a ilha o clima mais sadio do mundo inteiro. Para lá vão os doentes desenganados. Os ingleses dispõem de habitações encantadoras; tive ocasião de conhecer, de passagem, algumas dessas vivendas. Procurei, por toda parte, os famosos vinhedos; arrancaram-nos para plantar cana-de-açúcar. Os canaviais estendiam-se por todos os lados. Disseram-me, no entanto, que haviam poupado os vinhedos a leste da ilha.

O cavalo que eu montava tinha o andar muito duro; fui obrigado a apear-me e a puxá-lo pela rédea. Mas, de quando em quando, escorregava, pois a ladeira era calçada com uma espécie de tijolos que com as chuvas se tornavam escorregadios como o gelo. Tive de montar de novo. Apesar dos pesares o cavalo possuía os pés mais firmes do que os meus, nesse caminho resvaladiço. Mal chegáramos à base da ladeira, o grupo de esfarrapados acercou-se de nós novamente; desta vez as risadas foram substituídas por lamúrias. Contrastava o aspecto dos nababos ingleses a tomarem fresco nos terraços de suas lindas vivendas, entre flores, e o daqueles mendigos a choramingar,

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