Dois anos no Brasil

com um exercício tanto mais penoso quando vivera tanto tempo no sossego de uma gaiola. Pobre bichinho! Essa água foi tirada do mar. Olhas com tristeza em torno. Que valem agora tuas asas? Mal te susténs e vais morrer. Todavia, no outro dia, quando, de costume, subi ao convés, tive a alegria de ver a fugitiva aparar no bico as primeiras gotas de uma chuva que dali a pouco se transformou em aguaceiro.

19. Estamos à vista do Cabo Verde. E poucas horas depois fundeávamos em São Vicente. Para quem vem da Madeira, o aspecto de desolação dessa ilha mais impressiona. Enquanto grupos de negros abarrotam de carvão o vapor, fomos a terra. É de cor a maior parte dos habitantes; os próprios soldados portugueses, em regra, não são brancos. Mal desembarquei, fui cercado de olhares provocadores por parte de negras ainda moças e bonitas, que aguardam a passagem dos que se dirigem ao Brasil. Não vi em toda a ilha senão árvores raquíticas parecidas com zimbros. Por toda parte meninos nus me seguiam à distância. Senti sede porque o sol queimava. Tendo me aproximado de pequena cisterna, ia solicitar de duas velhas pretas a fineza de me darem um pouco d'água que elas tiravam do poço, em uns potes, mas a cor escura do líquido me fez passar a sede. Na praia, detritos de mariscos substituíam a areia e, ali, há pequeno obelisco erguido por uma mulher em memória do marido, capitão de um navio ali naufragado. Veem-se ainda restos da embarcação. A temperatura em São Vicente era bem alta e os meus trajos de verão, afinal envergados, pareciam-me pesados.

Foi nesta altura da viagem que, com grande surpresa, vi surgir no tombadilho a tal italiana tão gabada em Southampton. O enjoo prendera-a no camarote, até então, e como agora o mar se mostrava sereno, aproveitava-se

Dois anos no Brasil - Página 19 - Thumb Visualização
Formato
Texto