Dois anos no Brasil

soltaram-lhe as amarras; todas elas foram descidas ao mar. Os remos ficaram nas suas posições de manejo; outros marujos levaram para os botes sacos de correspondências. Funcionaram as bombas; parou-se a máquina do vapor. O mestre da equipagem, armado de um machado, colocou-se na popa do navio. Que era preciso mais para emocionar todos os espíritos? Que é que havia? Que risco corríamos? Todos os olhos fitavam o comandante a dar ordens ao imediato que, por sua vez, as transmitia a um piloto. Este ia às pressas até a proa, repetindo em voz baixa as instruções recebidas... Ninguém ousava dizer nada, porém todos se achavam curados... Aquilo tudo, afinal, não passava de um exercício para caso de incêndio.

Dali a pouco o tempo se encarregou de completar o espetáculo que o comandante começara. Uma grande nuvem escura avançou para nós, no céu. Rapidamente. Teríamos agradecido uma boa chuvada, mas um aguaceiro tropical era demais. Todos trataram de se abrigar. Eu já trazia escolhido, para situações semelhantes, um abrigo entre os galinheiros, e, como navegávamos em plena zona dos imprevistos, tive muitas vezes oportunidade de egoisticamente me servir do meu recanto protetor, deixando os companheiros disputar agasalho perto da escotilha.

Cruzamos a linha no dia 26 às 8h30min da noite. Desconfiara, por certos movimentos estranhos durante o dia, que íamos assistir a alguma cerimônia. Não houve, no entanto, nada demais. Apenas uma cota para se beber champanha: fez-se a saúde do comandante com muitos hip... hip... hurrahs! mais desagradáveis aos ouvidos do que as rodas dos carros de Lisboa ou as variações do clarineto em fá. Esses gritos me ofereceram uma antecipada sensação da música dos índios.

Mal a sineta de bordo chamava para as refeições, todos corriam para ser os primeiros à mesa. Os lugares não

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