Dois anos no Brasil

vez, um pássaro-mosca voando em redor de uma laranjeira. Pareceu-me feliz presságio; ele me reconciliava comigo mesmo e com minhas esperanças, anunciando-me verdadeiramente o novo-mundo. Pouco me importavam o teatro, a bolsa, os outros edifícios públicos existentes na Bahia. Pensava era em começar minha caça aos insetos, aos pássaros, aos répteis. Eu não viera até cá pelo interesse de cidades.

Aproveitando minha passagem pela Bahia, fui dar um abraço num velho amigo para ali vindo poucos meses antes de mim. Mostrou-se satisfeito com a sua nova vida e desejei-lhe constantes venturas, embora não lhe dizendo que, se me visse na perspectiva de ficar ali residindo, morreria de tédio. Comigo mesmo já decidira que, se o Rio fosse igual à Bahia, minha demora lá seria a menor possível.

Depois de ver o papa-moscas, o que mais atraiu minha atenção foram as cadeirinhas. São forradas de chita azul escuro e dois escravos as conduzem, soltando, de quando em quando, consoante o costume, gritos de alerta. Numa rua muito estreita assisti à pitoresca cena do encontro de duas dessas cadeirinhas que, indo uma em sentido contrário da outra, não queriam recuar nem avançar. Numa delas ia gorda mulata que insistia para que os seus portadores continuassem o trajeto, enquanto as da outra cadeirinha a isso se opunham e não cediam o passo. Não sei que fim teve a história, pois estava na hora do jantar e retirei-me do local. O hotel que procuramos para comer pertencia a um tal Sr. Janeiro ou Fevereiro e estava sendo reformado à francesa. A uma mesa, perto da nossa, sentara-se a bela italiana, e enquanto aguardava o prato pedido sorvia cálices de vinho. Pouco depois apareceu a mãe, seguida de um bonito, gordo e elegante brasileiro, todo cheio de anéis e berloques e trajando roupa preta, como de uso nos trópicos. Era certamente parente

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