Dois anos no Brasil

à canoa para arranjar as coisas ali de modo a me ser permitido manejar o leme sem sair da minha barraca. Amarrei um cordão que ficasse ao alcance de minhas mãos. Policarpo e Miguel remariam. Ao partir, recebi a visita de um morador de Vila Bela que, por sua vez, ia também embarcar acompanhado dos três Maués que me trouxeram; iam todos numa embarcação a oito remos. Esse homem, ao ver o crocodilozinho que secava, me disse: "Já que o Sr. faz coleção desses bichos, deveria ir ver uma grande cobra que matei há meses. Está em casa do vigário de Freguesia no lago do Jourouti."

Quando me despedi desse informante, descobri o preguiçoso Policarpo sentado no seu posto habitual e Miguel de remo na mão. Os dois, porém, abriram a vela porque o vento se mostrava favorável. Sem que tivéssemos propriamente tempestade, eram as ondas bem altas para nossa frágil canoa e nela entravam à vontade. Eu e Miguel tratamos de esvaziar a embarcação enquanto Policarpo manejava a vela de modo a evitar o mais possível as vagas. O dia e a noite decorreram assim a bordejar e na outra tarde entramos no Rio Jourouti. Ali, Policarpo recomeçou com suas caretas de aborrecimento. Eu ia contendo a cólera. Cometera nova imprudência não aceitando os outros dois homens, que me ofereceram e me encontrava agora mais à mercê desse miserável. Contudo, pus-me de guarda a observá-lo e a impedir toda camaradagem dele com o remador que, por sua vez, não me agradava muito. Antes de embarcar cientifiquei a Policarpo quanto iria ganhar, e quando estávamos prestes a partir, pediu-me logo dinheiro adiantado, ao que acedi; com esse gesto fiquei prevenido e à espera de piores atitudes. Com o espírito preocupado prossegui a viagem.

Policarpo, ao entrarmos no Rio Jourouti, declarara ser nossa canoa muito grande para subir até Freguesia; deduzi haver alguma passagem estreita, acessível apenas

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