habitada por negociantes portugueses. Nela ficam a Alfândega e o Correio. As calçadas eram ocupadas pelas mais belas e altas negras que já conheci. Entramos na famosa rua do Ouvidor, rua francesa de ponta a ponta; os comerciantes ali estabelecidos denominam-na modestamente de rua Vivienne. A cidade, pode-se dizer, resume nessa artéria; ali se passeia e ali as damas exibem seus trajos.
O momento, porém, não seria bastante para estudar os costumes do Brasil; tornava-se preciso primeiro me aboletar num hotel e já sabia que isso me custaria, pelo menos, 20 francos diários. Resignara-me ao preço. Ao entrar no hotel encontrei, graças aos cuidados do senhor Aumont, a refeição pronta; quanto a quarto só havia um para nós dois. E assim mesmo sem janelas; a luz entrava por uma espécie de óculo, o que se resumia num calabouço para quem quer repouso após um mês de desconforto a bordo. Armários, nem sombra! Tínhamos de guardar nossa roupa à moda matuta; numa trouxa. O que fazia mais falta era o ar. Viver no Brasil sem ar é suportar o suplício dos cárceres de Veneza; é mais duro do que as calmarias do equador. Muitas vezes, à meia-noite, tive de sair da cama e de me deitar numa poltrona de vime. Por seu lado, o Sr. Aumont lutava com inimigos invisíveis. Tivéramos já de combater os mosquitos, cujas picadas são terríveis, mas, desta vez, o adversário era outro. Os novos assaltantes deviam ser numerosos. Ao acendermos as velas, descobrimos um mundo de bichinhos escuros, de compridas pernas, rápidos como estrelas cadentes e que desapareciam às nossas vistas com rapidez inacreditável. Buscas minuciosas dadas para encontrá-los eram infrutíferas, porém, mal se apagavam de novo as luzes, a "dança" recomeçava. Contudo, devíamos saber ao certo do que se tratava. Reacesa a vela, de repente, precipitei-me para a cama e esmaguei sem pena um dos pequenos animais. Que horror! Era um