Dois anos no Brasil

uma das montarias do porto. Nela eu iria com Miguel enquanto Policarpo ficaria ali tomando conta da canoa. Interessado em voltar ao Pará, ele não se meteria a qualquer proeza contra mim. Deitei-me na areia à espera dos mensageiros e, embora julgasse que o regresso seria breve, passou-se uma hora sem tal acontecer. Uma hora e ninguém. Comecei a ficar inquieto e não podendo me conter segui as pegadas dos meus dois homens. Caminhei bastante; às vezes chegava a correr, por fim já andava sem rumo certo, pois os sinais dos pés pelo chão tinham desaparecido, pelo menos aos meus olhos embaciados pelo suor a escorrer da testa e que não pensava em enxugar. Atingi assim uma espécie de vale que desci, subindo a encosta fronteira. Lá em cima nem uma vereda. Receoso de me perder, voltei à canoa. Ninguém ainda. Imaginem minha situação! Sozinho, longe de todo auxílio, que fazer? Sem dúvida Policarpo havia desencaminhado o outro índio.

O tempo a correr e nada. Os macacos soltavam gritos horríveis e eu tinha a impressão de ouvir rugidos longínquos. Meti a cabeça entre as mãos e — fato inacreditável! — passei por ligeiro sono. Acordou-me um raio de sol batendo-me no rosto. Estava ainda sozinho, mas esse instante de repouso, esse sono que me vencera, me restituíra toda a energia. Nada de fraquezas. Era mister reagir. Subir o rio, impossível. Mas, deixaria a canoa descer a corrente até a foz do Jourouti e de lá pelo Amazonas. Iria, ora a vela, ora a remo. Tudo como Deus quisesse. Decidi partir dali a uma hora, se ninguém me aparecesse.

Gritavam sempre os macacos. Dei-lhes de comer. E quando acabei esse serviço vi Policarpo e Miguel na minha frente. Estava escrito que nesse dia passaria por toda sorte de emoções. Esta fora tão forte que fiquei sem poder dizer nada, de braços cruzados, à espera do

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