dispostas em anfiteatro. As que ficavam próximo d'água estavam cobertas de detritos de toda espécie. Parecia-me em certas ocasiões ver povoações com seus tetos de palhas ou filas de tulhas de feno. Esses amontoados de detritos existentes até em cima das árvores, a grande altura, davam bem ideia do vulto das enchentes nestas paragens. Depois de ter subido o rio umas três horas, entramos num lago a cujo fundo ficava Freguesia. A noite vinha perto; não se via casa nenhuma. E Miguel, embora cansado, demonstrava certo contentamento, o que contrastava com o que já vira em outros servidores. Dava-me assim grande satisfação, satisfação essa com que Miguel resgatava a perfídia dos de sua raça. Há recordações que nunca se apagam de nossa memória. Achávamo-nos os dois no meio dessa lagoa, em um tronco de árvore transformado em frágil embarcação que com a maior facilidade poderia virar. Um céu puríssimo e águas tão calmas a dar a impressão de estarmos no espaço a voar. A ilusão só se quebrava em face dos jacarés muito frequentes nestas alturas, traindo-se pelos movimentos d'água ao mergulharem. Íamos para frente e nem um ente humano nos aparecia. Escurecia mais e Miguel não sabia que rumo tomar. A cada curva dizia com alegria: "É ali". E nada! Tínhamos de encarar a situação com jovialidade, encorajando-nos. Mas eu já ansiava por um abrigo para pernoitar. A posição na canoazinha era assaz incômoda; não podia estirar direito as pernas e ao desembarcar parecia-me impossível andar. Afinal divisamos ao longe claridade indecisa, depois outro ponto de luz: era o termo da nossa viagem. Amarrada a canoa, subimos uma ladeira e alcançamos um grupo de habitações cujos donos já dormiam. No alto uma igreja. Recebeu-me o padre amavelmente quando lhe disse de onde viera. Foi buscar o couro da cobra, aliás em mau estado de conservação; a cabeça não existia mais ou talvez ele tivesse preferido ficar com ela. O couro, o