padre me deu sem qualquer remuneração. Enquanto jantávamos disse-me que, se eu demorasse uns dias em Freguesia, me levaria a um grande lago próximo, onde já aparecera a maior serpente das que por ali existiam. Os índios haviam descoberto certo dia no meio dessa lagoa uma coisa imóvel que não puderam logo saber o que fosse. Parecia-lhes uma das ilhas que surgem subitamente formada pela correnteza. Mas, ali não havia correnteza, as águas eram muito serenas. Que seria então? A tribo inteira reuniu-se à margem da lagoa. Olhavam a coisa estranha sem coragem de ir lá perto. Enfim três mais afoitos tomaram uma montaria e com todas as precauções que a prudência aconselhava rodearam a tal coisa desconhecida; um dos homens, pondo-se em pé, não pôde alcançar a altura de enorme cobra que ali ficara a descoberto quando as águas da lagoa baixaram. Mediram-na: tinha uns cem pés de comprimento. Vários moradores das vizinhanças da lagoa tiveram de se mudar dali por causa do mau cheiro quando a cobra apodreceu. Se minha canoa houvesse ficado em mais segurança, eu teria aceito o convite do padre, malgrado o estado de fraqueza em que me achava. Esse fato extraordinário da cobra já fora narrado por pessoa digna de fé ao cônsul Froidfond no Pará. Quem contara essa história habitava então Santarém e me forneceu uns apontamentos que colhera a respeito desse réptil fabuloso.(1) Nota do Autor Nós troçáramos bastante dessa cobra gigante que se assemelhava à famosa serpente marinha. Imagine-se minha surpresa ao me ver, agora, a centenas de léguas de Santarém,