Dois anos no Brasil

deitamos no chão, passando assim metade do dia. Teríamos de bom grado ficado ali até de noite, se não fora o desejo de terminar o mais depressa possível essa viagem sem mais interesse para mim. Alimentava apenas um propósito: encontrar uma plaga em que pudesse ainda apanhar umas chapas; depois embalaria tudo e tomaria o primeiro vapor que me passasse perto.

Voltara o bom tempo. Luar. Grandes peixes nadando à superfície das águas metiam medo aos macacos. De meia em meia hora, cada um de sua vez, íamos esvaziando a canoa. Ao clarear, por uma inaudita ventura, encontramos uma dessas enormes planícies cortadas por grandes regatos. Preparei-me para tirar umas fotografias. O sol, porém, andava mais ligeiro do que eu e, quando estava tudo pronto, o calor era tamanho que tive de trabalhar quase nu. Esse costume, aliás, deu em resultado ficar com a pele em mísero estado. Não me dera nenhum proveito essa última experiência artística. Consequências do temporal da véspera? Alguma perversidade de Policarpo misturando minhas drogas? Seja por que for, resolvi empacotar tudo e dar por finda minha missão. Miguel remava e eu preparava minhas bagagens. Ao anoitecer o pobre homem adormeceu, e a canoa ia ao sabor da corrente. Eu velava. O vento mudava de repente e às 10h tive, embora com pena, de acordar Miguel para orientar melhor a vela.

Depois de Benoit, que sempre se enganava, depois do feioso Policarpo, que o fazia por cálculo, Miguel era o tipo do índio mais vagaroso, mais difícil de dar conta das suas tarefas. Era, preciso tempo enorme para que realizasse um trabalho e tudo ficasse pronto. Ao meu "vamos" respondia "vaamoos", e dessa vez ainda tive de ir ajudá-lo na manobra da vela com medo que tornasse a dormir. Nessa navegação pelo grande rio ocorreram-nos várias peripécias. Certa vez a canoa ficou metida

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