Segundo os cálculos de Miguel, estaríamos perto de Óbidos. Contudo não podia precisá-lo, pois ele nunca andara por ali. Viajávamos um tanto a esmo, esperando obter informações de alguma canoa com que cruzássemos. De madrugada eu pegara no sono, deixando o companheiro a dirigir o barco, mas, por ignorância ou negligência, ele não deu conta de que já passáramos Óbidos e nos achávamos por caiporismo do outro lado do rio. Tivemos de recorrer aos remos. Nada mais de sono. Ao contrário, bem despertos para subir e atravessar uma corrente veloz como a do Amazonas. Tarefa penosa que afinal vencemos. E atracamos em Óbidos.
A canoa ficou amarrada perto de terra ao lado de várias outras nas quais se achavam muitos indígenas. Aproveitei o ensejo e pintei um Muras e uma mulher das margens do Andira. Não foi sem custo que tive de me meter em trajos de cerimônia para ir fazer visitas. Procurei furtar-me a esse protocolo. Havia um vapor no outro dia e podia me dispensar dessas novas amizades. Tinha, porém, de tratar de assunto importante: desembaraçar-me da canoa pois não podia levá-la para Belém. Nesse momento uma mulata já idosa, saltando de canoa em canoa, veio sentar-se ao lado da minha e me perguntar se ela estava para vender. No caso afirmativo iria buscar o patrão para nos entendermos. Vinha a calhar a proposta e tratei de não perdê-la. Efetivamente um quarto de hora depois um gordo português veio a mim e indagou do preço da canoa. Ou melhor, ofereceu-me logo uma soma que era apenas inferior em 30 francos do que me custara a embarcação. Aceitei sem relutar: negócio bom para ambos. Eu me desembaraçava do que não mais precisava; ele adquiria um barco com que negociaria no transporte de madeira do Amazonas. Fiquei apenas com a vela para enrolar com ela os objetos para os quais não dispunha de caixas.