Dois anos no Brasil

brasileiros, não olham com bons olhos os estrangeiros. Como não viesse pedir emprego e tencionasse me demorar no Rio o tempo indispensável para conseguir os meios de realizar uma excursão pelo interior, não liguei importância ao modo um tanto reservado com que fui recebido; manifestei-lhe o desejo de ser apresentado ao Imperador, para quem trouxera preciosas recomendações, e recebi a promessa de ser atendido. Apenas teria de esperar alguns dias, porque Sua Majestade estava em Petrópolis, na residência de verão.

Enquanto aguardava esse regresso, percorri a cidade, com meu companheiro de quarto e de infortúnios, à procura de outro teto. Enverguei, para esse passeio, as roupas leves compradas na Belle Jardinière, mas me senti acanhado ao reparar que todos me olhavam com espanto semelhante ao que manifestávamos antigamente diante de um árabe com seu albornoz ou um grego com sua saia pregueada. Por toda parte o preto predominava. Os caixeiros das lojas, manejando as vassouras, já vestiam, às 7h da manhã, elegantes redingotes de casemira. O branco, neste país, onde o preto deveria ser castigo para os galés, era desconhecido. Acreditem e tomem nota para seguir o exemplo. Contudo, um me foi dado aqui e adotei-o: o de nunca sair à rua sem guarda-chuva. Não obstante nosso modo de trajar, tivemos de prosseguir na nossa procura de hospedaria. Passamos por uma praça onde havia magnífico chafariz, bem original, aliás, porquanto dispunha de umas dezenas de torneiras como jamais vira em quantidade. Uns cinquenta negros e negras, sempre aos berros, sucessivamente, iam enchendo seus potes sem grande demora.

Atravessando ruas e mais ruas, chegamos ao cais, onde viviam muitos urubus. Já verificara qual o motivo que os atraía para os negros: eram nem mais nem menos os vasos e cestos transbordantes de sujidades que se despejavam

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