Dois anos no Brasil

Não poria um ponto final nas citações de conselhos e pedidos que me dirigiram, nessa ocasião, se as quisesse a todas recordar. Procuravam acautelar-me contra quaisquer acidentes de que seria inevitavelmente vítima se não seguisse à risca as advertências amigas. Deveria usar sempre flanela e, ao mesmo tempo, trajos brancos, por causa do sol. Que me defendesse como de inimigo mortal, dos tecidos pesados, até mesmo batista, porém, em compensação, não tirasse do corpo as camisas e as meias de algodão. Sobretudo não me esquecesse de escolher um camarote a bombordo, porque nele, a caminho da América, poderia abrir minha vigia para gozar os ventos alíseos. Cometi loucuras para conseguir essa vantajosa situação, mas o vento foi tão violento durante a travessia que só se podiam abrir justamente as vigias de estibordo, enquanto eu morria de calor no meu camarote. Por outro lado, à procura de roupas, remexi todo o sortimento da Belle Jardinière. O que existia de mais escuro nas cores fora implacavelmente recusado pela pessoa que me acompanhava: ela só queria escolher os tons mais claros e, bem a propósito, agiu, porquanto no Brasil todo mundo se veste de preto, não somente para ir às festas, mas, também, durante o dia, muito embora o sol derreta a todos de suor.

Quando voltei, as perguntas substituíram as recomendações:

— Você deve ter aguentado um calor dos diabos, hein?! Contaram-me que esteve no meio dos selvagens?! São perversos? Que belas coisas você presenciou! É verdade que andou também pela América do Norte, pelo Canadá, pela cachoeira do Niágara? Então, viu Blondin? Existe mesmo ou se trata apenas de uma pilhéria?

Previra o assalto dessas curiosidades, porque não me esquecera de que, ao regresso de uma viagem ao polo norte, houve quem me perguntasse se sentira muito frio. Por

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