Dois anos no Brasil

ela me seguia por toda parte. Mudar-me!... Só tinha em mente essa contingência.

Eis aí o primeiro motivo de minha viagem. Outro, aparentemente fútil, decidiu-me e apontou-me o rumo a tomar. Tendo ido jantar, uma noite, com minha filha, em casa de um amigo, o acaso colocou-me perto de um general belga há longo tempo residindo na Bahia. Conversamos bastante acerca dos aspectos maravilhosos oferecidos a cada passo nessa terra de esplendores. "E por que o senhor não vai passar uns meses no Brasil? Tal passeio far-lhe-ia bem à saúde e esqueceria seus aborrecimentos." Não foi preciso mais para me encher a cabeça com esse projeto tão de conforme aos meus gostos. Ao reconduzir minha filha ao internato, aludi à conversa mantida com o general e, rindo-me, disse-lhe: "Se eu fosse passar um mês ou dois nesse país distante, estaria de volta pelas férias. Seria excursão semelhante às que faço ao campo, no verão, quando não te vejo frequentemente."

Acertei meus negócios e, uma vez que tinha de deixar a casa em 1859, foi fácil combinar com o proprietário minha mudança em 1858.

Fala-se habitualmente da coragem que se precisa ter para efetuar uma longa travessia. Há os perigos e as privações de toda ordem e a todo momento. Na verdade, a coragem é indispensável, em resoluções dessa natureza, porém, não para fazer face a um risco qualquer. O instinto de conservação está em guarda, mas o hábito vai amenizando tudo. Acostumamo-nos a viver cercados de animais ferozes; não se pensa nem na peste, nem na febre amarela, nem nos leões, nem em ursos brancos quando já se passou alguns meses na sua vizinhança. Foi o que pude constatar. Recordo-me da última tarde que passei com minha filha, das várias histórias que lhe contei para distraí-la e suavizar-lhe os sobressaltos com minha ausência. Não queria afligi-la mais do que ela já se achava,

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