traindo minhas próprias preocupações. Afirmava-lhe com bonomia, só existirem tigres e cobras no Jardim Zoológico. Ademais, Deus sabia bem que coisas magníficas eu traria dessa terra que ia conhecer! Virara menino; divertia-me e quando me vi sozinho, bem sozinho, no meio de Paris, lá foi que se me tornou necessária boa dose de ânimo para voltar atrás, para me mostrar alegre quando sentia o coração apertado.
Tinha o que fazer ainda em Londres e fui até lá levando minha bagagem. Embarquei no Havre e desci em Southampton. A 5 de abril de 1858 tomei um vapor inglês e, ao passar pelo Tâmisa, vi o "Leviathan", cujo tamanho descomunal produziu efeito singular em alguns caixeiros viajantes, meus companheiros de travessia, o que me espantou, pois estão acostumados a ver tudo. Eu fizera a tolice de trazer comigo a mala com a roupa nova destinada ao meu desembarque no Rio de Janeiro, o que motivou dificuldades com os guardas da Alfândega. Felizmente deixaram-me passar sem pagamento de direitos. Logo que me desembaracei dos negócios e depois de rever alguns amigos, fui novamente ao Palácio de Cristal, que há tempos visitara. Todo mundo conhece as belezas de Sidenham; tantas descrições já foram escritas, que nada mais há a se dizer a seu respeito. Contudo, do que menos se tem falado é justamente do que mais me agrada. Na parte inferior desse imenso terreno colocaram, em poses pitorescas, seja na água, seja em terra, os diversos seres que nos precederam no mundo. Ali se veem animais primitivos, aqueles cuja perfeição ainda não se completara - como os peterodáctilos, os plesiossauros, os grandes lezardos, de pescoço de serpente, todos esses bichos dos quais nenhum outro atualmente nos dá uma ideia. E existem mais os dinotérios, os anoplotérios, os ursos, os mastodontes, tudo no seu tamanho natural. Deste modo pode-se, num passeio, aprender sem estudar, e é tão cômodo não