Viagens pelo Brasil. Principalmente nas províncias do Norte e nos Distritos do Ouro e do Diamante durante os anos de 1836-1841

vi bandos de escravos cujo número variava de 20 a cem indivíduos, todos incapazes de dizer uma palavra em português, tangidos para o sertão para serem vendidos, ou já comprados por proprietários de plantações. Estes bandos andam sempre escoltados por capatazes armados, e os escravos já vendidos carregam frequentemente pequenos fardos, quase sempre de implementos agrícolas. Não se faz mistério de seus movimentos e até magistrados figuram entre os compradores de escravos. É igualmente bem sabido que os magistrados dos distritos onde se vendem escravos recebem peita para guardar sigilo sobre a venda deles.

O alto preço que alcançam nos mercados, os escravos, é forte tentação para incorrer o risco de importá-los. Costuma-se dizer que, se de três carregamentos de escravos um se salvar, será o bastante para cobrir todas as despesas e deixar larga margem de lucros.

Antes da minha chegada ao Brasil fora eu levado a crer, por notícias publicadas na Inglaterra, que a condição do escravo no Brasil era a mais desgraçada que se podia conceber; e as narrativas que ouvi quando aportei, dadas por indivíduos que ora sei mal informados no assunto, tendiam a confirmar aquela crença. Uns poucos anos de residência no país, durante os quais vi mais do que o que tem sido dado ver a maioria dos europeus, contribuiram para alterar sensivelmente as primeiras impressões. Não sou defensor da permanência da escravatura; desejaria, ao contrário, vê-la extirpada da face da terra — mas nunca dei ouvidos aos que figuram o senhor de escravos do Brasil como um monstro cruel. Posto que tenha sido larga minha permanência entre eles, mui poucos atos de desabusada crueldade se passaram sob minha observação. O próprio temperamento dos brasileiros a isso se opõe. São plácidos e indolentes por hábito, e isto os leva a relevar em seus escravos muita coisa que seria severamente punida por um povo de índole mais ativa e ardente. De europeus em quem a referida peculiaridade é mais acentuada se sabe que têm sido

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