que eram todos escravos. Via grupos de trabalhadores, contentes e bem dispostos, que saiam de suas pequenas choças, por vezes cercadas de uma horta, a caminho das labutas diárias, das quais voltavam à tarde, em nada alquebrados pelo peso da tarefa. A condição do escravo de serviços domésticos é talvez ainda melhor que a dos outros: mais bem alimentados, mais bem vestidos e com trabalho mais leve.
Observei que as senhoras brasileiras são quase sem exceção bondosas para com os escravos domésticos de ambos os sexos, mas principalmente para com as que foram amas de leite. Em lugares onde não havia nenhum recurso médico, por vezes vi a senhora de escravos atendendo em pessoa aos doentes das enfermarias.
Mas a índole dos escravos é vária. Pela propria natureza do negro — por sua comprovada inferioridade intelectual; por falta de educação; pela consciência, de sua posição na sociedade e pela quase certeza de nunca poder alçar-se acima dela — não admira que haja entre os escravos alguns que são inquietos, impacientes de toda disciplina e dados a todos os vícios. É a frequente necessidade que se apresenta de punir aos de más disposições, o que tem levado à suposição do uso indiscriminado e universal da chibata. Se se contrastar a capacidade mental dos índios nativos com a do negro, não será difícil, em quase todos os pontos, decidir em favor daquele. Não é das menos fortes provas da deficiencia mental do negro, o fato que, mesmo nas zonas mais remotas do país, três ou quatro brancos podem conter 300 ou mesmo 400 deles na mais perfeita submissão. Com os índios isto nunca poderia acontecer, porque também a eles se permitiu, e ainda se permite, escravizar na fronteira do norte e de oeste, embora em desobediência à lei. O índio, com inclinações animais menos desenvolvidas que o preto, é também por isso de disposição mais benigna, mas ao mesmo tempo muito mais insofrido de restrições.