O caráter e a capacidade do negro variam grandemente em diferentes nações. Os da África setentrional são, em tudo e por tudo, os de melhor raça. Os escravos da Bahia são mais difíceis de governar que os de qualquer outra parte do Brasil, e aí mais do que alhures se têm verificado tentativas de rebelião. A causa disso é óbvia. Quase toda a população escrava, daí vem da Costa do Ouro. Homens e mulheres não só são mais altos e mais belamente conformados que os de Moçambique, Bengala e outras regiões da África, mas possuem também muito maior soma de energia mental, filha talvez de seu próximo parentesco com os mouros e árabes. Há entre eles muitos que leem e escrevem o arábico. São mais unidos entre si que os de outras nações e por isso menos sujeitos a terem divulgados os seus segredos quando planejam revoltas.
Para resumir estas observações: tenho tido amplas oportunidades, desde que deixei a América do Sul, para contrastar a condição da escravatura aí com a do coolie em Maurício e na Índia, porém mais particularmente em Ceilão; e, se me fosse perguntado à qual delas daria preferência, certamente me decidiria em favor da primeira, muito embora, ao mesmo tempo, não pudesse deixar de exclamar com Sterne: — Inda assim, ó escravidão, tu és um cálice amargo!
Muito se teme no Brasil uma insurreição geral dos escravos, temor bem fundado quando se considera a sua superioridade numérica em relação aos brancos. Estivessem eles unidos pelos laços da simpatia comum e o fato já se teria dado de há muito; mas os preconceitos hostis existentes entre as várias raças africanas o tem evitado até o presente.
Nas províncias do norte e do interior largo estímulo à insubordinação se tem oferecido pelo sentimento generalizado que anima grande parte da população livre, constituída em grande parte dos mestiços, e desejosa de sacudir o jugo da monarquia e substituí-lo por uma forma de governo