O Selvagem

educação, porque, para esses pobres, a pátria tem sido madrasta.

O cruzamento do índio com o negro deu em resultado uma linda raça mestiça, cor de azeitona, cabelos corridos, inteligente e com quase todas as qualidades e defeitos da precedente, e que é conhecida no norte com o nome de cafuz [cafuzo], e no sul com o nome de caboré.

Os traços físicos característicos, ao menos para mim, que subsistem da raça indígena nestes dois mestiçamentos são: a cabeça, que conserva a depressão da testa e a estrutura, aproximando-se da do índio; a velosidade da fronte, estendendo-se em ângulos salientes, nas frontes com os vértices opostos; as órbitas e o malar salientes; o diâmetro transversal dos ângulos posteriores do maxilar inferior quase igual ao diâmetro parietal do crânio; o cabelo corrido e extremamente negro; barba e velosidades do rosto e pescoço extremamente raras. No corpo, a sólida e vasta estrutura do tronco, a largura das espáduas em contraste com o pouco desenvolvimento da bacia, a energia da musculatura e a finura e delicadeza das extremidades, são traços que ressaltam logo aos olhos do observador.

O cruzamento destas raças, ao passo que misturou os sangues, cruzou também (se nos é lícito servirmo-nos dessa expressão) a língua portuguesa, sobretudo a linguagem popular. É assim que, na linguagem do povo das províncias do Pará, Goiás e especialmente de Mato Grosso, há não só quantidade de vocábulos tupis e guaranis acomodados à língua portuguesa e nela transformados, como há frases, figuras, idiotismos e construções peculiares ao tupi. Este fato mostra que o cruzamento físico de duas raças deixa vestígios morais, não menos importantes do que os do sangue. O notável professor norte-americano C. F. Hartt nota que são raríssimos os verbos portugueses