"Pinheiro, dá-me uma pinha;
Roseira, dá-me um botão;
Morena, dá-me um abraço,
Que eu te dou meu coração."
Fazendo a mesma tradução que acima, as imagens, à primeira vista tão sem laço umas com as outras, agrupam-se para traduzir energicamente o pensamento do bardo semi-selvagem, o qual para nós seria redigido assim: Um abraço teu, morena, é tão precioso como a pinha o é para o pinheiro, como o botão de rosa o é para a roseira; dá-mo, que em troca te darei o que tenho também de mais precioso, que é o meu amor.
Agora uma de Cuiabá, para mostrar que de uma extremidade a outra do Império o sistema da poesia popular foi vasado no lacônico, rude, mas enérgico molde do lirismo selvagem:
"O bicho pediu sertão;
O peixe pediu fundura;
O homem pediu riqueza;
A mulher, a formosura."
Isto é: a formosura é tão indispensável à mulher e a riqueza ao homem, como para o peixe é indispensável a fundura das águas e para o animal selvagem a vastidão das terras interiores, a que chamamos sertão.
Há sem dúvida alguma, muita rudeza nestas formas; mas, em compensação, quanta originalidade e energia de comparações!
Não cito estes exemplos como espécies de literatura popular; nesse campo, tenho em meus apontamentos de viagem elementos para escrever um livro;