O Selvagem

que tais cruzamentos fossem fecundos, se a Providência Divina não tivesse em vista um melhoramento e um progresso na espécie. É sabido que, desde que os organismos dos seres vivos tem entre si diferenças específicas, ainda que seja fecunda a união dos dois, os filhos são estéreis. Para não recordar senão um fato, que é muito vulgar entre nós, citarei o exemplo do cruzamento entre o cavalo e o jumento, cruzamento perfeitamente fecundo, ao passo que os híbridos resultantes desta união se tornam infecundos e são incapazes de reprodução entre si. Ora, tanto o mulato, como o mameluco e o cafuz, não só gozam da faculdade da reprodução, como parecem possuí-la em maior extensão e desenvolvimento do que as raças puras de onde provêm. E deste fato resulta que a diferença entre os troncos humanos é acidental, sem o que os filhos se não reproduziriam; e que, se essa diferença se torna importante quanto aos fenômenos intelectuais, não deve ser lançada à conta das raças e sim à falta de educação, pobreza, clima, e todas essas que os naturalistas capitulam com o nome de ação dos meios. Hoje está averiguado que existem raças perfeitamente brancas, que ainda estão no período da Idade da Pedra, e, portanto, iguais em civilização a nossos selvagens e inferiores aos negros do Haiti e São Domingos.

Os troncos humanos não morrem; transformam-se. A única transformação que vinga e predomina é aquela que fica mais em harmonia com as circunstâncias locais em que se tem de exercitar as diversas e variadíssimas funções da vida. É isto o que se dá com os homens e com os animais em toda parte, e é isto o que sucederá com o Brasil. Não é só o bom senso que indica a priori esta opinião; ela resulta igualmente dos fatos que já podemos observar em nossa curta história do Brasil; digo curta, porque: natura non facit