Ainda hoje, não há talvez um só caipira de São Paulo, ou um bruaqueiro de Minas a quem se possa dizer que é um ente imaginário o Saci-Cererê, que ele julgou encontrar por deshoras junto a alguma porteira, que lhe saltou na garupa, ou que lhe fez alguma outra tropelia.
As crenças e superstições indígenas passaram todas para o nosso povo, e os deuses dos tupis vivem ainda em nossos campos vida tão real como a que lhes davam os aborígines, no tempo em que seus pajés (e não piagas) os adoravam: escrever, pois, a teogonia tupi é quase que escrever até um certo ponto as crianças de nosso povo, aquilo em que cada um de nós acreditou até aos dez ou 11 anos.
Não me ocupando, porém, de escrever uma monografia a respeito da religião indígena, e não devendo tomar deste assunto senão a parte que tem ligação imediata com a antropologia, limitar-me-ei a registrar apenas aquilo que diz respeito a estas três ideias capitais: sentimento de gratidão para com o Criador, imortalidade da alma, teoria de penas e recompensas; começando por dar uma ideia geral de como era concebida pelos selvagens a noção de Deus.
VII
Concepção da Divindade
Examinando esta questão de religião como naturalista, isto é, sem sair nunca do fato observado e natural, o que a história nos apresenta é o politeísmo precedendo o monoteísmo.
Se os índios da Ásia conceberam o seu Brahma e os hebreus o seu Jeová, Deus, único em substância,