Certamente que se atribuem maus atos aos deuses. Por ventura, quem ler a Bíblia, sem dar desconto ao que a linguagem humana necessitou de introduzir de seu, poderá conscienciosamente afirmar que tudo quanto ela atribui ao Deus dos judeus seja santo e honesto? Não falemos da Bíblia. Poder-se-á dizer que os gregos não tinham ideias de seres divinos, porque atribuíam a Júpiter e aos outros ações indignas da divindade? Pois se entre povos tão cultos e com tão elevadas noções da divindade se deu isso, como se pretende que os deuses de nossos selvagens sejam todos entes maléficos, se os nossos selvagens, com Hesíodo, Homero, e sobretudo com Aristófanes na mão, podiam disputar a superioridade dos seus diante daqueles?
É difícil compreender bem o espírito de religião dos índios sem estar entre eles, sem ter a paciência necessária e os meios de interrogá-los; e é daí que resulta essa babel de informações inexatas que se tem dado de suas ideias religiosas.
Dizemos que negam boas ações aos deuses selvagens: Anhanga, Curupira, Caipora (aliás, Caapora) são apenas conservados nas tradições dos brasileiros como entes que podem fazer mal ao homem, sem lhes poder fazer bem algum.
Assim é, se se referem às tradições vulgares do nosso povo, modificadas pelo cristianismo.
Mas a razão não é porque esses seres sejam por sua natureza maléficos.