O Selvagem

Os historiógrafos, a seu turno, tendo objetivo diverso do etnografista, apenas acidentalmente derivam de sua trajetória normal para essa ramificação científica que lhe é conexa. Southey, Varnhagem, Pereira da Silva, em suas preocupações históricas e cronológicas, raro descem a minúcias etnográficas. Observando de longe, fundando-se nas memórias dos navegadores do período colonial, nas tradições e documentos daquela época, perpassam apenas pela etnografia quando a isso impelidos pela necessidade histórica. Os próprios historiadores daqueles tempos, Gabriel Soares, Pedro de Magalhães Gandavo, o padre Simão de Vasconcellos, autor de Chronica da Companhia de Jesus, que conviveram com as tribos primitivas e delas mais largamente se ocuparam em suas obras, não parecem ter cultivado com o mesmo zelo com que recolheram a sua crônica o estudo de sua língua.

Finalmente, um dos poucos contemporâneos que ainda dispensam uma parte de seus lazeres em prol desses últimos representantes de uma raça quase extinta pelo egoísmo ingrato dos conquistadores, monsenhor Costa Aguiar, atual bispo do Amazonas, que acaba de prestar à civilização e ao Cristianismo o relevante serviço de escrever o catecismo cristão em língua nheengatu, rende homenagem à competência de Couto de Magalhães na dedicatória que a sua memória fez no seu piedoso trabalho.

Como, pois, contestar o direito à comemoração cívica de seus confrades a um brasileiro que deixa de sua passagem um trabalho que, sobre perpetuar um idioma que tende a desaparecer, ministra um meio útil de promover o acesso de um milhão de brasileiros ao grêmio da civilização?

Devo, como ressalva, declarar que não sou movido