O Selvagem

Goiás, montes que dão as últimas águas orientais que vão ao Amazonas.

Do Sangrador ao Araguaia medeia a distância de 50 léguas. A sete léguas a leste do Sangrador há, no meio das planícies, montes de campos abruptos, de pequeno diâmetro e muita elevação, e que semelham torres ou castelos gigantescos; o mais notável é o Paredão. Estes montes, sem vegetação aos lados, são vermelho-escuros, arenosos e cobertos de crostas estratificadas de diversos sais de ferro ou de conglomerados da mesma base.

Desde minhas primeiras viagens que o aspecto maciço e a cor vermelha dessas montanhas e rochas chamaram minha atenção, porque esse gênero de formação não é comum ao Brasil. Meus conhecimentos geológicos eram então quase nulos. Foi só na última viagem que, vindo eu de Montevidéu para aqui com o naturalista inglês James Armstrong, que regressava de uma expedição ao estreito de Magalhães, o mesmo me deu alguns fósseis (madeiras petrificadas pela sílica), e eu, com surpresa, vi então que havia passado mais de uma vez por um banco importante desses preciosos fragmentos da história das revoluções da terra, banco tanto mais curioso, quanto ele indica, ao que suponho, uma bacia de terrenos carboníferos.

A montanha denominada Paredão eleva-se, como um castelo colossal, no meio daquelas campinas. Seus lados são talhados a prumo, altíssimos e inacessíveis, excepto pelo lado do nascente. A cor vermelha daquele colosso destaca-o grandiosamente das verdíssimas e úmidas campinas que lhe velam os topes e contrafortes. No meio da esplanada superior, que é chata e coberta de musgos e de gramíneas mui pequenas ou de pequenos arbustos entortilhados, eleva-se um cabeço, que, como atalaia, completa a ilusão, figurando-o a um