castelo em ruínas. O viajante que ousa subir ao píncaro dessa esplanada (o que já fiz e que qualquer pode fazer, como disse, galgando-o pela parte do oriente) acha-se colocado talvez no mais alto ponto do divisor das águas do Amazonas e do Prata. Ao sul, poente e nascente, avistam-se planícies, nas quais se destacam, como torres, algumas montanhas do mesmo grés vermelho que constitui o Paredão. Ao N. e N. O. as planuras estendem-se quase a perder de vista, e bem na extrema do horizonte, a 16 léguas de distância, avista-se uma serra, que, correndo no rumo de S. O. para N. E., parece que divide as águas do Xingu (cujas cabeceiras são ainda inteiramente desconhecidas) das águas do rio das Mortes. Quando o tempo está sereno, avistam-se, subindo ao ar, daquelas campinas, grandes coIunas de fumaça, que indicam as aldeias dos índios, inteiramente selvagens e ferozes, que habitam essa região, compostas, pelo que suponho, de caiapós, coroados, gorotirés e algumas outras tribos de que temos perdido os vestígios, ou das quais nem tenhamos talvez a mais leve notícia.
Do Paredão ao Araguaia medeia a distância de 50 léguas, e a estrada, deixando à direita o divisor das águas, toma os altos de uma bacia secundária — os que dividem as águas do rio das Garças das do rio das Mortes. Tudo é campo. A 14 léguas do Paredão, atravessa-se o Barreirinho sobre uma ponte, cujos esteios estão apoiados em lagedos de grés vermelhos; seu aspecto, através das águas límpidas do rio, é sumamente agradável; a 22 léguas atravessa-se o Barreiro Grande: a ponte está lançada sobre dois paredões de grés metamórfico, altíssimos, que aí estreitam e encanam o rio, de modo que o viajante passa, por assim dizer, dependurado sobre o abismo, no fundo do