O Selvagem

espírito, a não ter sido a viagem que fiz à foz do Amazonas de que acima falei.

Em dias do mês de setembro de 1874, tendo de fiscalizar o serviço de navegação a vapor em ilhas da foz do Amazonas, parei no Afuá, lugar onde se abrigam todos os barcos que navegam para o Amapá e Guiana e onde havia nesse dia um considerável ajuntamento de tripulações.

Aí ouvi pela segunda vez as lendas do jabuti, e ouvindo-as em lugar tão distante do Paraguai veio-me pela primeira vez esta ideia: não serão estas lendas fragmentos da velha literatura tupi, que, como a dos gregos, egípcios e hebraicos, foi muitos anos conservada pela tradição visto que por outro meio era impossível, pois não tinham a arte de escrever?

Posteriormente, voltando ao Pará, repeti uma das lendas a um índio mundurucu que era marinheiro a bordo de um dos meus vapores, o Aruãn, o qual por sua vez me narrou algumas das que aqui estão colecionadas.

Chegando ao Rio de Janeiro comuniquei o fato ao sr. professor Carlos Frederico Hartt e soube com vivo prazer que ele havia encontrado as mesmas lendas no Tapajós, julgando-as, entretanto, velhas tradições astronômicas da família tupi, motivo por que ele também coligira algumas. Ainda não vi a coleção do ilustre professor, sei, porém, que é em outro dialeto, o que tem o grande mérito de oferecer algumas das mesmas histórias em texto diferente daquele em que as encontrei, e de assim fixar, não só sua autenticidade, como seu caráter de generalidade.

O sr. professor Carlos Frederico Hartt publicou recentemente um folheto com o título: The Amasoniam [sic] Tortoise mythes, mitos do jabuti no Amazonas.