O Selvagem

do autor, que há pouco citei, as quais vêm na introdução à mitologia zoológica dos Vedas:

"Entre o conto popular e o mito, existe apenas uma simples diferença de época e dignidade. O mito é resultado direto e primitivo da transformação dos elementos míticos em fábulas. É a obra do espírito coletivo espontâneo, expressado pelos poetas. O conto popular é o último eco, com as graduações que a transmissão lhe impôs.

Não é mais esta produção poética na qual tomou parte a humanidade superior; mas, sim, um resíduo, se nos podemos assim exprimir, refeito por pessoas mais simples, como as avós e as amas de leite.

Ainda assim, diz o sr. Renhold Koeller, o conto popular é tão importante ou talvez mais do que as inscrições cuneiformes, porque ele é, abaixo do mito, o vestígio mais antigo do pensamento humano."

Nesta coleção de mitos existe um que o sr. professor Hartt, em sua obra Notes on the Tupi Language, diz que foi encontrado idêntico na África e em Sião, e que dessa proveniência figura já nas coleções mitológicas. Eis aqui suas palavras: "I have, for instance, found among the Indians of the Amazonas a story of a tortoyse that outran a dear by posting its relations at short distance apart along the road, over wich the race was to be run — a fable found also in Africa and Siam!"

Veja-se por aí a grande luz, quantas páginas da primitiva história do pensamento da humanidade, que se julgavam irremissivelmente sepultadas no abismo insondável dos períodos pré-históricos, não poderão ser reconstituídas neste século, graças à memória rude mas fiel do nosso selvagem, que conserva tradições muito mais antigas talvez do que as dos Vedas.