eles ouvirem; ele lhes responde: "oh! se vocês estão admirados de me verem cantar, o que não seria se me vissem dançar no meio da casa?"
Era muito natural que os meninos abrissem a caixa; que crianças haveria tão pouco curiosas que quisessem deixar de ver o jabuti dançar? Há nisto uma força de verossimilhança cuja beleza não seria excedida por Lafontaine. Abrem a caixa, e ele escapa-se.
Esta lenda ensina que não há dificuldade na vida, por maior que seja, de que o homem se não possa tirar com sangue frio, inteligência e aproveitando-se das circunstâncias.
O que principalmente distingue um povo bárbaro é a crença de que a força física vale mais do que a força intelectual.
Napoleão I, por exemplo, refere que os árabes no Egipto muito custaram a acreditar que fosse ele o chefe do exército, por ser um dos generais de mais mesquinha aparência física.
Ensinar a um povo bárbaro que não é a força física que predomina, e sim a força intelectual, equivale a infundir-lhe o desejo de cultivar e aumentar sua inteligência.
Cada vez que reflito na singularidade do poeta indígena de escolher o prudente e tardo jabuti para vencer os mais adiantados animais de nossa fauna, fica-me evidente que o fim dessas lendas era altamente civilizador, embora a moral nelas ensinada divirja em muitos pontos da moral cristã.
Não será evidente, por exemplo, que a concepção aparentemente singular de fazer um jabuti apostar uma carreira com o veado é muito engenhosa para gravar em cabeças rudes esta máxima: que a inteligência e a prudência são mais importantes na luta da vida do que as forças e as vantagens físicas?