O Selvagem

O jabuti é gente boa, não é gente má. Estava embaixo do taperebá juntando sua comida. A anta do mato chegou aí, disse a ele:

— Retira-te, retira-te daqui.

O jabuti respondeu a ela:

— Eu daqui não me retiro, porque estou debaixo da minha árvore de fruta.

— Retire-se jabuti, senão eu piso você.

— Pise para ver se você é macho.

A anta jurupari pisou o coitado do jabuti.(21)Nota do Autor A anta foi-se embora. O jabuti disse assim:

— Deixe estar, jurupari; quando for o tempo da chuva, eu vou em seu encalço até eu encontrar você. Eu darei a você o troco de me enterrar, eu.

Chegou o tempo da chuva para o jabuti tirar. O jabuti saiu, foi embora atrás do jurupari grande. Encontrou-se com o rasto da anta. O jabuti perguntou a ele:

— Quanto tempo já seu senhor deixou você?

O rasto respondeu:

— Há muito já me deixou.

O jabuti saiu dali uma lua (uma vez); depois, encontrou-se com outro rasto. O jabuti perguntou:

— Seu senhor ainda está longe?

O rasto respondeu:

— Quando você andar dous dias, encontrar-se-á com ele.

O jabuti falou a ele:

— Eu estou aborrecido de procurar; pode ser que ela fosse de uma vez.

O rasto perguntou:

— Por que razão que você agora procura tanto ela?

O jabuti respondeu:

— Para nenhuma coisa (para nada). Eu quero conversar com ela.

O rasto falou:

— Então você vá ao rio pequeno; lá achará meu pai grande.

O jabuti falou assim:

— Então eu vou ainda.

Ele chegou ao rio pequeno; assim perguntou:

— Rio, que é do seu senhor?

O rio respondeu:

— Não sei.

O jabuti falou ao rio:

— Por que razão é que você fala a mim bem assim?

O rio respondeu:

— Eu falo a você isto bem assim, porque eu soube o que meu pai fez