O Selvagem

a raiz de pau!

A onça disse assim:

— Deixe estar.

Largou a perna do jabuti. O jabuti riu-se segunda vez e disse:

— Porém era mesmo minha perna.

A onça, grande tola, esperou até morrer.

VII

O jabuti e a raposa

NOTA — O ensino contido nesta lenda é o mesmo da fábula grega A raposa e o corvo, dando-se até a coincidência de, tanto nela como na fábula de Phedro, ser o lisongeiro personificado pela raposa. Ninguém deve fazer a outrem aquilo que ele pede depois de lisonjear, porque se expõe a ser logrado. A máxima é assim desenvolvida:

O jabuti recusou-se a emprestar sua frauta à raposa: esta lhe pediu então que tocasse; o jabuti tocou coisa muito sem graça, que, entretanto, deu motivo à raposa para se admirar do quanto ele, jabuti, era formoso tocando o instrumento. O jabuti, depois dessa lisonja, fez o que a princípio recusava, isto é, emprestou a frauta, e a raposa fugiu com ela.

A segunda parte da lenda é o desenvolvimento daquela outra máxima, que, como já notei atrás, parece que preocupava sobretudo os mestres selvagens, isto é: a inteligência tudo vence. O jabuti, apesar de ser um animal vagarosíssimo, consegue, por uma espirituosa astúcia, reaver a frauta roubada pela raposa.

A segunda parte da lenda é chocante para os nossos hábitos: os que já leram as comédias de Aristófanes verão que o indígena ficou muito aquém do poeta grego em matéria de liberdade de cena.



Dizem que o jabuti tinha uma frauta. Um dia, quando estava tocando sua frauta, dizem que a raposa foi ouvir e disse ao jabuti:

— Empresta-me tua frauta?

O jabuti respondeu:

— Eu, não, para fazeres fugir a minha frauta!

A raposa disse: Então, toque, para nós