VIII
O jabuti e a raposa
NOTA — O jabuti e a raposa apostam para ver quem resiste mais tempo à fome. Sendo o jabuti um animal que hiberna, pode suportar a experiência por dois anos e dela sair com vida. Outro tanto não aconteceu à raposa, que, não tendo a mesma natureza do jabuti, morreu em meio da experiência.
Parece que a parábola quis ensinar que, pelo fato de um homem fazer uma coisa, não se segue que todos a possam fazer, e que, antes de empreendê-la, devemos primeiro consultar se a natureza nos dotou das qualidades necessárias para a sua realização. Este mesmo pensamento é desenvolvido em uma série de lendas que adiante publicamos com o título de Casamento da filha da raposa, sendo de notar que, tanto nesta, como naquelas, a raposa é a vítima.
Entre os nossos indígenas, como entre os gregos e romanos, a esperteza da raposa é frequentemente exposta ao ridículo e figurada como nociva à mesma raposa.
O jabuti entrou no buraco do chão, assoprou sua frauta e estava dançando: fin, fin, fin, culo, fon, fin, fin, culo, fon, fin, culo, fon, fin, culo, fon, fin, te tein! te tein! tein!(24)Nota do Autor
A raposa veio chamar o jabuti:
— Oh! jabuti!
O jabuti respondeu:
— U!
A raposa disse:
— Vamos experimentar nossa valentia?
O jabuti respondeu:
— Vamos, raposa; quem vai adiante?
A raposa disse:
— Tu, jabuti.
— Está bom, raposa; quantos anos serão, raposa?
A raposa respondeu:
— Dois anos.
Então, a raposa fechou o jabuti no buraco do chão. Depois que acabou de fechar, disse:
— Adeus, jabuti, me vou