Como não seria natural que dois inimigos fossem voluntariamente morar juntos, o bardo indígena supôs que o veado, depois de haver escolhido um lugar para casa, se retirou; e que a onça, ignorando a escolha prévia do veado, escolheu o mesmo Iugar; que aquele veio depois da onça ter se retirado, roçou e limpou o lugar; que a onça, vindo depois da retirada do veado, julgou que Tupã a estava ajudando. E assim trabalharam sucessivamente cada um supondo que era Tupã quem fazia o trabalho do outro, até que, concluída a casa, quando deram pelo engano, para não perder o trabalho, se resignaram a morar juntos, resultando daí uma situação de recíprocas desconfianças e que é descrita com tanta singeleza quanta felicidade de fatos.
Primeiro episódio
O veado disse:
— Eu estou passando muito trabalho e por isso vou ver um lugar para fazer minha casa.
Foi pela beira do rio, achou um lugar bom e disse:
— É aqui mesmo.
A onça também disse:
— Eu estou passando muito trabalho, e por isso vou procurar lugar para fazer minha casa.
Saiu e, chegando ao mesmo lugar que o veado havia escolhido, disse:
— Que bom lugar; aqui vou fazer minha casa.
No dia seguinte veio o veado, capinou e roçou o lugar.
No outro dia veio a onça e disse:
— Tupã me está ajudando.
Afincou as forquilhas, armou a casa.
No outro dia veio o veado e disse:
— Tupã me está ajudando.
Cobriu a casa e fez dois cômodos: um para si, outro para Tupã.
No outro dia a onça, achando a casa pronta, mudou-se para aí, ocupou um cômodo e pôs-se a dormir.