O Selvagem

No outro dia veio o veado e ocupou o outro cômodo.

No outro dia acordaram, e quando se avistaram, a onça disse ao veado:

— Era você que estava me ajudando!

O veado respondeu:

— Era eu mesmo.

A onça disse:

— Pois bem, agora vamos morar juntos.

O veado disse:

— Vamos.

No outro dia a onça disse:

— Eu vou caçar; você limpe os tocos, veja água, lenha, que eu hei de chegar com fome.

Foi caçar, matou um veado grande, trouxe para casa e disse ao seu companheiro:

— Apronte para nós jantarmos.

O veado aprontou, mas estava triste, não quis comer, e de noite não dormiu, com medo de que a onça o pegasse.

No outro dia o veado foi caçar, encontrou-se com outra onça grande e depois com um tamanduá; disse ao tamanduá:

— Onça está ali falando mal de você.

O tamanduá veio, achou a onça arranhando um pau, chegou por detrás devagar, deu-lhe um abraço, meteu-lhe a unha, a onça morreu.

O veado a levou para casa e disse a sua companheira:

— Aqui está; apronte para nós jantarmos.

A onça aprontou, mas não jantou e estava triste.

Quando chegou a noite, os dois não dormiam, a onça espiando o veado, o veado espiando a onça.

À meia-noite eles estavam com muito sono; a cabeça do veado esbarrou no jirau, fez: tá!

A onça, pensando que era o veado que já a ia matar, deu um pulo.

O veado assustou-se também e ambos fugiram, um correndo para um lado, outro correndo para o outro.