O Selvagem

Como espero fazer ainda uma demorada viagem pelos nossos sertões, agora que conheço não só a língua geral, mas as formas mais importantes dos dialetos vivos, hei de ainda talvez recolher uma tradição melhor do que esta que coligi em 1865, quando apenas começara meus estudos desta matéria.



Contam que um moço estava pescando peixe, de cima de um mutá. A velha gulosa veio pescando com tarrafa pelo igarapé. Ela avistou no fundo a sombra do moço e cobriu com a rede; não apanhou o moço. O moço, quando viu aquilo, riu-se de cima do mutá.

A velha gulosa disse:

— Aí é que estás? Desce para o chão, meu neto.

O moço respondeu:

— Eu não.

A velha disse:

— Olha que eu mandarei lá maribondos!

Ela mandou-os. O moço quebrou o pequeno ramo e matou os maribondos.

A velha disse:

— Desce, meu neto; senão eu mando tucandiras [sic].(28)Nota do Autor

O moço não desceu; ela mandou tucandiras; estas o puseram na água; a velha jogou a tarrafa sobre ele, envolveu-o perfeitamente e levou-o para sua casa. Quando lá chegou, deixou o moço no terreiro e foi fazer lenha.

Atrás dela veio a filha e disse-lhe:

— Esta minha mãe, quando vem da caçada, conta qual é a caça que ela matou; hoje não contou... Deixa-me olhar ainda o que é. Então desembrulhou a rede e viu o moço. O moço disse-lhe: