O Selvagem

ideias e necessidades, que eles possuem no estado bárbaro, em comparação com as que hão de ter desde que se civilizem. Limitemo-nos a ensinar-lhes que não devem matar aos de outras tribos. É a única coisa em que eles divergem essencialmente de nós.

Quanto ao mais, seus costumes, suas ideias morais, sua família, seu gênero de trabalho para alimentar-se, são muito preferíveis, no estado de barbária em que eles se acham, aos nossos costumes que eles repelem enquanto podem, e aos quais se não sujeitam senão quando, enfraquecidos por contínuas guerras, se vêm entregar a nós para evitar a morte e a destruição.

Cada tribo que nós aldeiamos é uma tribo que degradamos, é a que por fim destruimos, com as melhores intenções, e gastando o nosso dinheiro.

Por que razão sustentá-los ou obrigá-los a fazer roça a pretexto de que só assim perdem os hábitos da vida nômade, quando eles se sustentam perfeitamente bem, sem ter tais roças?

Não entrará pelos olhos adentro de todo o homem de bom senso que reduzir à vida sedentária homens que não têm artes necessárias para subsistir nela, ou equivale a destruí-los à custa de fome e privações, ou equivale a fazer pesar sobre nós o encargo de sustentá-los ?

Mas, dir-se-á, os índios aldeiados aprenderão logo a cultivar a terra e poderão viver a sua custa e felizes.

Se a natureza moral de um povo fosse como uma tira de papel, onde se escreve quanto nos vem à cabeça, então seria tão fácil mudar-lhes os costumes, como é fácil escrever.

Feliz ou infelizmente, não é assim. Esses costumes rudes são mais tenazes do que os de um povo civilizado;