entrelaçam-se com seus sentimentos, suas necessidades, e até com suas crenças e superstições religiosas. O mais rudimentar conhecimento da natureza faz ver que é impossível alterar essas coisas sem o decurso de algumas gerações, e por outro meio que não seja a educação do menino, especial e dirigida para esse fim, e com o objetivo de reduzi-lo a intérprete que sirva de laço entre o índio e o cristão.
Aldeiar o índio em um ponto e obrigá-lo a cultivar a terra para obter um sustento de que ele não necessita, é um pecado contra o senso comum, desses que bradam aos céus.
O índio sustenta-se quase exclusivamente de carne e peixe. Desde a lagartixa até a anta, a onça e o jacaré, desde o caramujo e a ostra até o pirarucu e o peixe-boi, tudo lhe é carne ou peixe e lhe serve de alimento, bom e sadio, e ele o prova com a sua robustez e com o grande número de anos a que atinge antes de lhe vir a decrepitude.
Notarei, para que se não faça ideia errônea de sua higiene alimentar, pelo que acabo de dizer, que, ao passo que eles se alimentam de muitos animais, que não comeríamos sem grande repugnância, não comem muitos dos que nós comemos; exemplo: a piraíba, grande parte dos peixes de pele, aves e pássaros em certas épocas do ano, por serem nocivos à saúde.
Dizíamos, porém, que os índios se alimentam quase exclusivamente de peixe e carne, e que, à vista de seus costumes, eles têm na vida que levam um amplo celeiro desses alimentos, com pouco o quase nenhum trabalho.
Dizíamos que aldeiá-los e, por conseguinte, sujeitá-los à vida sedentária e a cultivar a terra que lhes dará um alimento de que eles não usam e que é realmente inferior, constituía um crime de leso senso comum.