Em uma obra dele, de grandíssimo valor linguístico, intitulada Glossaria Linguarum Brasilientium, vêm vocabulários de 68 dialetos brasileiros, sendo alguns deles oriundos das mesmas línguas mães, tupi ou guarani, o que os reduz de número; tendo ele e seus companheiros viajado e explorado quase todo o Brasil, a ponto de haver produzido a mais rica e copiosa flora escrita no mundo, não é provável que lhe tenham escapado muitas línguas. Julgo, pois, que 50 ou 60 dialetos, deduzidos de cerca de oito grandes línguas, são os que tem o Brasil.
Esta minha afirmação, entretanto, é apenas uma conjectura, fundada no motivo que acima apresentei, porque mesmo com as grandes viagens que empreendi, com a longa residência que tive nos sertões, eu só conheço bem uma língua na qual falo e escrevo, que é o tupi ou nheengatu, que se falava em quase todo estado de São Paulo ao tempo de Anchieta, e em quase todo o Brasil; conheço mal o guarani, que aprendi com os prisioneiros paraguaios que fizemos quando comandei as forças de Mato Grosso, e isso só para ler; não falo nem escrevo; conheço algumas frases do caiapó e carajá e nada mais.
Na etnografia de Martius ele considera que os 60 ou mais dialetos que existem no Brasil provêm das oito seguintes línguas, a saber:
1° A dos tupis ou guaranis
2° A dos jês ou crãs.
3° A dos guck ou coco.
4° A dos crens ou guerengs [guerens].
5° A dos parexis, parecis ou porazis [posagis].
6° A dos goyatacaz [goitacás].
7° A dos aruacs [aruaques] ou aroaquis [aruacos].
8° A dos guaicurus, lenguás [lengoas] ou niniknaus.