Resistiram a isto os índios, matando igualmente os espanhóis e portugueses que puderam e matando-se a si mesmos, de modo que da população indígena do Brasil que, ao tempo do descobrimento, não devia ser inferior a quatro milhões de vidas, talvez não possuamos hoje mais de meio milhão espalhados por todos nossos sertões.
Para justificar estas tiranias disseram a princípio que não eram homens; depois que o Papa Paulo Terceiro os declarou homens, disseram que eles eram antropófagos.
Viajei, como já disse, o Brasil de nascente a poente, de norte a sul, em toda a sua extensão; vivi anos nos sertões do Araguaia, no centro dos selvagens de Goiás, Mato Grosso e Pará; falo correntemente a língua mais geral entre eles, que é o tupi, tinha intérpretes para outras, pois fundei lá um colégio de línguas sob a proteção da Princesa Imperial D. Izabel, e nunca encontrei e nunca soube de uma só tribo de antropófagos
É certo que algumas das tribos matam os prisioneiros que capturam nas guerras e que comem suas carnes. Fazem-no, porém, por vingança, e não como alimento, e tanto assim que, antes de matar um prisioneiro, dirigem convites para todas as aldeias com que estão em relações; reunem-se, às vezes, quatro a seis mil índios para comer um só homem. Ora supondo que um homem, na média, tenha 50 quilos de carne, afora ossos e líquidos, dividido por seis mil, dá menos de uma [sic] grama para cada um, ou menos da quarta parte de uma oitava.
Portanto, com muita razão e justiça, diz Gabriel Soares, à p. 307 da edição do Instituto Histórico, cap. 174, o seguinte: