"A qual carne se não come por mantimento, senão por vingança, e os homens mancebos e mulheres moças provam-na somente."
O modo porque tratam o prisioneiro e como o matam, devia ter feito compreender aos historiadores isto mesmo, isto é, comiam-no não por mantimento e sim por vingança.
Era ele alimentado do melhor que tinham, davam-lhe a mulher que ele escolhia, com a qual vivia como casado, e esta mulher, por vezes, diz Gabriel Soares, de tal sorte se apaixonava pelo prisioneiro, que lhe dava liberdade e com ele fugia para longas terras, porque, se depois disso fosse apanhada, morreria com ele.
No dia da morte, o prisioneiro era armado com a acha-de-armas e enfeitado com penas, tal qual o seu executor. Era amarrado pela cintura, mas tinha os braços livres, e mais de um matou a seu executor.
Muitos dos senhores terão certamente lido o famoso conto do nosso poeta Gonçalves Dias, intitulado I-Juca-Pirama, que significa: — O que vai ser morto; conquanto seja isso composição de um dos maiores poetas do Brasil, ela pinta a verdade histórica, quando descreve o prisioneiro matando dezenas de seus aprisionadores: "matavam e comiam alguns de seus inimigos, não por mantimento e sim para vingança".
§ 9º DAS IDÉIAS RELIGIOSAS DOS TUPIS
Em um livro raro, reimpresso em Paris por [Jean] Ferdinand Denis, e que se intitula Festa Brasileira celebrada em Rouen [Une fête brésilienne célébrée a Rouen en 1550], França, em 1550, e de que eu felizmente possuo um exemplar, vem da p. 77 em diante: — Fragmento da Theogonia Brasileira, coligido em 1549 e publicado por André Thevet em sua obra Cosmographia Universal.