O Selvagem

e, quem quiser traduzir nomes indígenas em português, deve verificar se pertencem a uma ou outra língua, porque, conquanto muitas das raízes sejam de significado idêntico, muitas são de diverso.

É sabido que o latim e o grego são filhos do sânscrito; no entanto é sabido que o som sibilado do sânscrito passou para o grego, ora com o de h aspirado, ora com o de k, ao passo que passou para o latim, com o de ç, cedilhado, igual a s.

O mesmo se dá entre o tupi e o guarani; o que é som de ç cedilhado ou s passou para o guarani com o de h aspirado; amar em tupi é: çaiçú, em guarani haihú; ovo, em tupi, çupiá, em guarani hupiá, verbo ir, em tupi çô, em guarani ho, e assim por diante.

De mais, o tupi conserva maior número de raízes monossilábicas do que o guarani; assim: onça ou pantera, em tupi jaguara, em guarani jaguá, a grande serpente anfíbia a que os naturalistas chamam anaconda, em tupi chama-se sicuri, em guarani curi; em tupi curupira, em guarani curupi:

É necessário ter isto, e muitas outras coisas em vista, para traduzir os nomes próprios de lugares. Na segunda edição do Selvagem, no dicionário que confeccionarei, darei a tradução dos que conheço.

Sobre o tupi, que é a língua mais geral do Brasil, possuímos menor quantidade de livros bons do que sobre o guarani, e a razão é porque o guarani ainda é falado no Paraguai, em lugares civilizados das Repúblicas Argentina e Boliviana; mas no Brasil, onde poucos são os que apreciam suas origens americanas, o tupi só é falado pelos aborígines e por poucos brasileiros civilizados.

Os melhores livros sobre o tupi são os seguintes:

Vocabulario da lingua tupi tal qual era falada em São Paulo no século XVI, pelo padre José de Anchieta;