O Selvagem

aquele de vapores no rio e, em terra, de imensa cavalhada. Nosso interior, muito mais remoto da parte que possui população densa, não é acessível ao vapor; possuímos menos cavalhada, portanto o movimento de forças aqui seria mais fácil ao gentio do que a nós.

Muitos de nós brasileiros têm a respeito do interior não pequena cópia de ideias falsas; a ideia que muitos formam do interior é que possuímos um país de florestas, quando, à exceção das da costa ou das que margeiam os rios, todo o território é, quase sem exceção, de eternas campinas. Uma outra ideia falsa que muitos formam do interior é que a população selvagem do Brasil se compõe de pequenas tribos; assim é no que respeita às que estão logo em seguida à população cristã. Mas no interior, isto é, além da linha ocupada pelos selvagens que estão em contato conosco, existem poderosas nacionalidades que não despertam a nossa atenção, porque é ainda imenso o sertão do interior que não é de forma alguma viajado ou conhecido. Só a bacia do Xingu é maior do que a França. Não há notícia de um só cristão que a tenha tocado até hoje. Não conhecemos nosso interior, ninguém o conhece senão os mesmos selvagens; é disso que vem a crença de que as tribos são pelo comum de cem a 200 indivíduos. Para citar só dois fatos, direi que a nação que com os nomes de gradaús [gradaós], gorotirés, caiapós, caraós [craôs] (falam todos a mesma língua) habita entre o Xingu e o Araguaia não deve ter menos de oito a 12 mil indivíduos. Na bacia imediata (a do Tapajós) conhecem-se também duas grandes nações: a dos mudurucus e a dos maués; a respeito destas publicou o Jornal do Commercio, em novembro do ano passado, a seguinte estatística:

ÍNDIOS DO TAPAJÓS. -- Lê-se no Diário do Grão Pará: