O Selvagem

de escrever, e para os quais as línguas estrangeiras eram tão ininteligíveis como o canto dos pássaros ou os gritos dos animais, muito natural era que eles só considerassem como língua de gente a sua própria.

A expressão ava nhehen, para exprimir a língua falada por eles, mostra-nos que a ideia que tinham das outras é que elas não eram língua de gente.

Observa o sr. Max Müller, com muita verdade, que nós, os homens do século XIX, dificilmente podemos compreender toda influência que exerceu sobre sociedades bárbaras este admirável instrumento chamado língua.

Para o selvagem, aquele que fala a sua língua é um seu parente, portanto, seu amigo. E é natural.

Ele não tem ideia alguma da arte de escrever; não compreende nenhum método de aprender uma língua senão aquele pelo qual adquiriu a própria, isto é: pelo ensino materno; por isso quando um branco fala a sua língua, ele julga que esse branco é seu parente, e que entre a gente de sua tribo e na infância é que tal branco aprendeu a falar.

Em uma das vezes em que os gradaús apareceram à margem do Araguaia, eu os acompanhei sozinho em uma longa excursão, levado pela curiosidade de observar grandes aldeamentos inteiramente selvagens. E esses gradaús se achavam em número superior a mil; eram havidos por ferozes, e meus companheiros julgavam temeridade visitá-los. Eu, porém, o fiz sem coragem alguma, porque, falando um pouco da língua deles, tinha plena e absoluta certeza não só de que a minha vida não corria o menor risco, como de que me procurariam obsequiar por todos os modos, e assim sucedeu.

Assim como para o selvagem aquele que fala a sua língua ele reputa de seu sangue, e, como tal, seu amigo,