as letras do nosso pobre alfabeto. Como as opiniões acerca da grande variedade de línguas americanas sejam exageradas, pela mesma razão porque se exageram as diferenças entre o tupi e o guarani, isto é, por causa da falta de um alfabeto, consintam-me que me detenha um pouco sobre este ponto, porque assim ficará esta questão esclarecida. A gama das notas das línguas americanas é, sem comparação alguma, mais rica do que as línguas arianas, que são mais vulgares entre nós.
Os gramáticos jesuítas chegavam diante de um som que não tinha representante nas línguas que eles falavam; era muito natural que o expressassem por uma letra de convenção; como não haviam então os meios de comunicação que temos hoje, porque o Brasil de 1873 está para o Brasil de 1600 fora de toda a comparação, era natural, dissemos, que essa convenção não passasse além de um círculo limitado.
A palavra água, por exemplo, é i gutural, em tupi e guarani.
Não há som algum que possa representar no português, latim ou espanhol, línguas que eram as conhecidas por aqueles padres, uma vogal gutural porque essas línguas não possuim uma só. O que era natural que fizessem? Uns escreveram simplesmente um i itálico com um trema; outros escreveram o mesmo i com um ponto em cima outro em baixo; outros escreveram um y com um acento particular; outros escreveram yg. Portanto, da falta de uma letra que expressasse exatamente o som em questão, resultou que escreveram a mesma palavra por quatro formas distintas, de modo que, quem lê, é levado a pensar que havia quatro expressões para designar a palavra água, quando os dialetos antigos e modernos não têm mais que um só vocábulo.