Esta confusão cresce quando a vogal gutural é seguida de vogal nasal aspirada; por exemplo: sem água, que se diz iima. Ora, qual o meio de expressar isto com as letras do nosso alfabeto? Não há. Portanto, uns escreveram iin, iji, outros igeima, de modo que nós, que lemos as letras com os sons que elas representam, em vez do vocábulo tupi, temos escrito diversos, dos quais, nenhum reproduz o som verdadeiro.
Outro exemplo e com ele concluo.
Não temos sons nasais no princípio dos nomes; e por isso não temos meio algum de representá-los sem as convenções supracitadas. A palavra coisa se diz em tupi m'bae, que se pronuncia quase como umbaé.
Para expressar o som tupi com as letras do nosso alfabeto escreveríamos ou umbaé, ou m'baé, ou imbae, ou embae, isto é, quatro nomes distintos, dos quais um só é o tupi.
À vista disto, compreende-se como, para quem lê a língua antes de haver educado o ouvido pela fala, cada novo autor que lhe caia nas mãos figura uma nova língua, ou pelo menos um dialeto diverso, sem haver tal diversidade, senão na pobreza e falta do nosso alfabeto, que certamente não podia representar sons que não existem nas línguas para que ele foi feito.
Acrescente-se a isto que os missionários espanhóis se serviam do alfabeto com os sons que ele tem em castelhano, diversos em muitos casos dos sons portugueses; e compreende-se com toda a facilidade como o guarani, que não é senão o tupi do sul reduzido a língua escrita, apresenta uma aparência às vezes tão diversa, que homens da força do benemérito Martius, de saudosa memória, com tanto mérito real, que aliás falava o tupi, o julgava, entretanto, distinto do guarani, como se lê a página cem do seu Glossaria linguarum braziliensium.